Com Libras e acolhimento: Escolas Seduc dão exemplo de inclusão para estudantes com deficiência auditiva

No Piauí, a inclusão nas Escolas da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) vai além do discurso. Nas salas do CETI Professora Áurea Freire, no bairro Saci, zona Sul de Teresina, ela é vivida todos os dias — em voz, gestos e olhares atentos. É ali que os estudantes Enzo Araújo e Valentina Nogueira, ambos com deficiência auditiva, estão mostrando que quando a Escola acolhe, a aprendizagem floresce.


Hoje no 9º ano do Ensino Fundamental, os dois contam com o acompanhamento diário da Professora-intérprete Geyse Ramos, que traduz o conteúdo das aulas para Libras (Língua Brasileira de Sinais) e ajuda a criar vínculos entre os alunos surdos e ouvintes. Um trabalho silencioso, mas poderoso.

Escola que respeita, transforma

A história de Valentina é contada com carinho pela mãe, Geórgia Nogueira. “Passamos por várias escolas privadas, mas a Valentina não se sentia incluída. Em 2023, conhecemos o CETI Professora Áurea Freire e tudo mudou. Ela passou a se envolver em todas as atividades: aulas de educação física, apresentações, trabalhos em grupo. Foi ali que ela se encontrou”, relata.

A mudança foi visível. Valentina ficou mais comunicativa, segura e, acima de tudo, feliz. Um exemplo de como a educação inclusiva, quando feita com propósito, transforma vidas.

Uma intérprete que conecta

Com 13 anos de atuação no CETI, a Professora-intérprete Geyse Ramos conhece bem o impacto da inclusão feita com seriedade. Formada no curso TILS pelo Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS), ela acompanha os estudantes em todas as disciplinas.

“Eles vieram de escolas onde não se sentiam acolhidos. Aqui, se sentiram parte de algo. Os colegas abraçaram, os professores se adaptaram e a escola se tornou um lugar de pertencimento. É gratificante fazer parte disso”, diz Geyse.

Assim como ela, outros 102 profissionais atuam hoje nas escolas da Rede Estadual, nos Centros de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e no Canal Educação. Todos com um objetivo em comum: garantir o direito à comunicação e ao aprendizado.

Aprendizado que une

Na prática, a convivência com colegas surdos também transforma os demais estudantes. David Renan, de 14 anos, é um dos melhores amigos de Enzo e Valentina. “Antes eu era muito tímido. Mas, com eles, aprendi a me comunicar, ganhei até um nome em Libras. Hoje me sinto mais aberto, mais amigo”, conta.

Atualmente, a Rede Estadual de Educação atende 70 estudantes com surdez e outros 185 com deficiência auditiva. Todos têm direito ao acompanhamento de intérpretes e acesso ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), que complementa o currículo e fortalece a vivência em uma escola realmente para todos.

Formação contínua e compromisso com a inclusão

O CAS é uma das engrenagens fundamentais para que tudo isso funcione. Há quase duas décadas, o centro é referência na formação de professores bilíngues, tradutores-intérpretes de Libras e no atendimento educacional especializado. Também oferece cursos preparatórios para o Enem e o vestibular da UFPI voltados para a área de Letras-Libras.

Profissionais interessados em atuar com esse público podem buscar formação diretamente no CAS, que mantém calendário contínuo de cursos e capacitações.

Educação que alcança todos

Para o Secretário de Estado da Educação, Washington Bandeira, a escola pública precisa ser, antes de tudo, um espaço de pertencimento e oportunidade. “Nosso compromisso é garantir o direito de aprender com dignidade e autonomia. Isso só é possível com inclusão de verdade, que respeita as diferenças e valoriza cada estudante. Estamos cuidando de todos, sem deixar ninguém para trás”, afirma o gestor.

Com iniciativas como essa, o Piauí vai construindo um modelo educacional mais humano, mais justo e mais transformador — onde cada voz, inclusive a que se comunica com as mãos, tem vez e tem valor.