Dia D da EJA: ponto de partida para uma nova vida

O Dia D para quem deseja um futuro melhor por meio da educação. Em resumo, esse é o significado desta sexta-feira, 8 de fevereiro. O dia em que o Mark Janio, que tem 24 anos e está há 12 sem estudar, optou por mudar a direção da sua vida e chegar ao curso superior. 


O jovem veio do norte do estado, da cidade de Parnaíba, trabalhar como frentista na capital, viu o anúncio na TV e foi à praça Rio Branco, onde equipes das Gerências Regionais de Teresina (GREs) estiveram de plantão durante toda a manhã realizando as matrículas dos mais novos alunos da rede estadual de ensino. Ao todo, são cerca de 150 mil vagas em 400 escolas do Piauí, destas 28 são exclusivamente voltadas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).


 

Umas das responsáveis pelas inscrições é a professora Raimunda Pimentel, diretora do Centro de Educação para Jovens e Adultos (Ceja) Maria Rodrigues das Mercedes, localizado no bairro Vermelha, que oferece 600 vagas exclusivas para a EJA. A educadora, que trabalha há 12 anos nessa mesma área, já presenciou muitas histórias de superação. "O Ceja Maria Mercedes participa desde a primeira busca ativa e o nosso maior intuito não é só conseguir fazer matrícula, mas ter a oportunidade de divulgar a importância desse aluno que saiu da escola voltar a estudar. Nós já tivemos todo tipo de aluno, como deficientes físicos, intelectuais. Neste ano um deficiente visual foi aprovado no Sisu. E sempre lembro que não existe limite de idade".




É o caso do cadeirante Ivan Melo, que nunca havia tido a oportunidade de estudar e agora, aos 42 anos, quer aprender a ler. "Sempre tive essa vontade e agora vou conseguir", diz o autônomo.

 


A modalidade de ensino que aos poucos vem mudando a história do Piauí, em pouco mais de dois anos reduziu a taxa de analfabetos de 20,2 % para 16,1%. A dona Maria das Dores Alves será a próxima a entrar em uma nova estatística, ela que chegou na praça no centro de Teresina sozinha e bem cedo. Aos 70 anos, aposentada, com 5 filhos criados, se matriculou para o Ceja mais próximo da sua casa.  "Eu tenho muita vontade de ler e escrever. Quero poder ler um jornal, escrever uma carta. É um sonho que vai se realizar e quem sabe, se Deus me permitir, até chegar à universidade, porque eu já vi na televisão gente com 75 anos recebendo o diploma", desabafa dona Maria das Dores esperançosa por uma qualidade de vida melhor.


 

As aulas começam dia 18 de fevereiro, mas até o dia 30 de março qualquer interessado em voltar a estudar, seja para a alfabetização ou concluir o ensino médio, pode fazer a matrícula em uma das 400 escolas da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) que oferte a modalidade. É o caso da Lucilene de Pinho Sousa que parou de estudar na 8ª série porque engravidou. Hoje, aos 44 anos, as filhas, as mesmas que por alguma circunstância da vida interromperam os estudos da mãe, foram as principais incentivadoras para que ela retornasse. 


"Já perdi muitas oportunidades por não ter ensino superior, agora eu quero ser advogada", diz emocionada com um sorriso no rosto por ter dado um passo importante para a realização dessa meta. Um propósito que pode ser difícil, mas não impossível. Só neste ano já foram aprovados mais de 200 alunos da EJA no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).


 


O governador Wellington Dias quis acompanhar de perto o processo que mobiliza todas as GREs da grande Teresina e ressaltou os índices satisfatórios de escolaridade no estado. "A educação é o alicerce de mudança da vida, por isso fiz questão de vir aqui para estimular essa campanha e convidar quem quer voltar a estudar para realizar sua matrícula. Este momento é importante porque o Piauí tem conseguido a maior proporção de alunos da rede regular de matriculados frequentando as escolas, são crianças e adolescentes até 15 anos; e desde 2015 nós ampliamos em 277% o número de matrículas de jovens e adultos, tendo a melhor posição do Brasil. E isso muda a vida de uma família, porque com a profissão consegue uma melhor renda; muda a vida de um município, de um estado, de um país".


 

 

A EJA que oferece vagas para jovens, adultos e idosos a partir de 15 anos para o Ensino Fundamental e a partir de 18 para o Ensino Médio, também realiza o dia D nos municípios do interior de acordo com a programação das escolas que ofertam a modalidade de ensino.


 

Com diferentes idades e objetivos, o programa engloba a maior quantidade possível de pessoas que buscam qualificação e um melhor acesso ao mercado de trabalho. "Hoje, a procura está equilibrada seja para quem procura se alfabetizar ou entrar na universidade. Agora mesmo, nós vimos uma mulher que parou de estudar há 15 anos e vendo os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) quer voltar a estudar", relata a professora Conceição Andrade, diretora da Unidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que diz sempre que o resultado alcançado por toda a sua equipe tem uma relação não só ao profissionalismo, mas também ao amor dedicado ao trabalho.



Na praça Rio Branco também, dividindo o espaço com as equipes da Seduc, produtores de hortaliças de cinco comunidades de Teresina.



Eles, que sempre realizam a feira agroecológica no espaço, aproveitaram a parceria com a Seduc para também fazer a matrícula de 15 agricultores na EJA. "Essa parceria é muito importante para eles, que serão alfabetizados e poderão fazer o próprio controle da produção", explica a engenheira agrônoma Carlota Rosal, coordenadora do Comitê Municipal de Agroecologia e Produção Orgânica de Teresina (CMAPOT). Através da parceria, a Seduc ganhou um lugar especial na comissão.